Jorge Galdino, uma poesia firme, sorridente e afável

 

Poeta Jorge Galdino



O Diário do Litoral Nordeste sente o vazio deixado por 
Jorge Galdino, poeta, escritor e compositor falecido no último dia 17, com 71 anos. Isto é sinal de que a poesia daquele artista gentil e sorridente deixou todos encantados. 

Quem conheceu o poeta, conheceu a obra e o inverso se equivale ao verso. Havia em Jorge Galdino um passo a frente na poesia que acontecia em Alagoinhas e que em Pedrão, sua terra natal, virou hino. Nada mais apropriado, qualquer cidade do mundo se sentiria orgulhosa.

Parece que exagero, que estou falando de um Drummond. E estou falando sim, os verdadeiros poetas se igualam de alguma maneira. É a democracia da poética, a mais verdadeira e perfeita. O que Jorge Galdino escreveu nenhum outro pode penetrar, e, portanto, se igualar. São as digitais da poesia. 

Por isso acho que o que temos de mais nobre a fazer com o conhecimento é fundir a filosofia com a poesia. São duas faces de uma mesma pessoa. Assim, quando estou entregue ao meus modestos estudos, me lembro sempre de artistas como Galdino que tiram da vivência mais simples, do convívio com os que têm quase nada, esse experienciar que se constitui em poesia por si mesmo, como as faíscas que saem do impacto das pedras. Não quero aqui glamourizar a pobreza, mas dizer, talvez, que a abundância estrague o homem.

Fico pensando como devem estar aqueles mais próximos do poeta, acostumados ao seu brilho cotidiano, como deve ser profundo o vazio deixado. Felizmente, ele lega sua obra como compensação possível e ela é tão magnífica que se adequa a um impossível papel. Eu sempre o encontrava aleatoriamente e, por não ter ido ao seu funeral, ficarei com a impressão de que vou esbarrar com ele como antes. Terrivelmente, não sinto sua partida como os amigos íntimos (mesmo assim me sinto triste) e fico com o lucro dos seus versos. 

Não é justo. O justo seria se ficasse para sempre. Por isso, ele foi imortal em Alagoinhas e trouxe para essa cidade polo uma outra percepção, um novo olhar e deixou uma robustez sem igual para a palavra que ao final se transformava magicamente em um texto leve, etéreo... mesmo que feita de um material concreto como a escritura de um paulistano ou daquelas gentes forjadas na dureza e crueza da vida, mas com o acalanto de uma natureza generosa. 

A palavra de Galdino tinha seu lugar preciso, não se mexia, mexia o mundo. Era verdadeira e segura, não duvidava dos pensamentos que a formaram e era, sobretudo, como o poeta: sorridente e afável.


Por Paulo Dias

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