Em Inhambupe, circenses estão em situação precária e abandonados pelo poder público

Josemar Santos e sua família, proprietários do Circo Imperial do Brasil

Desde o início da pandemia do coronavírus em 2020, os artistas circenses não foram os mesmos. Ao depender da presença do público, ainda proibida em eventos de grande porte como shows e espetáculos, esses profissionais precisaram criar maneiras para lidar com o isolamento e com a diminuição drástica da renda, buscando maneiras de continuar trabalhando e mantendo seu sustento.

Como foi o caso do Circo Imperial do Brasil, atualmente estacionado ao lado da quadra de esportes em Inhambupe, na Bahia, próximo ao entroncamento de acesso à Sátiro Dias - BA. Na cidade, o circo fez pouquíssimas apresentações em 2020, mas o suficiente para alegrar a população. No entanto, a diversão foi substituída pelo descaso e abandono pelo poder público.

Sem dinheiro para atender às necessidades básicas como comer, manter o espaço e a casa provisória em estados habitáveis,  o proprietário e artista Josemar Santos, suas duas filhas e sua esposa, estão há mais de um ano sofrendo por terem seus direitos violados. A família não teve como voltar para Natal, Rio Grande do Norte, por falta de recursos e estão em Inhambupe passando por dificuldades alarmantes. “Não temos recursos para sair daqui, a bateria do carro está estragada, nós não temos recurso para nada, nem para a reforma do material”, lamenta Josemar, natural de Entre Rios.


De acordo com o artista, o prefeito Nena foi procurado e prometeu três mil blocos e um lote para construção de uma casa. Segundo ele, os encontros com o prefeito aconteceram no açougue do gestor, após ter sido sinalizado na própria prefeitura que seria mais fácil obter uma resposta ao procurá-lo lá, lugar conhecido como “subprefeitura”. “Fomos à prefeitura várias vezes”, queixa-se Josemar. Apesar disso, nada do que foi prometido chegou a ser entregue ao artista e sua família. “Tudo que a gente queria era que a gente tivesse recebido a verba para ir embora”.



                                       

Recurso da Lei Aldir Blanc com possível fraude e humilhações para conseguir cesta básica

Em entrevista ao Jornal Diário do Litoral Nordeste, Josemar sinaliza que a última vez que o local recebeu a equipe da prefeitura foi para o encerramento das atividades, ainda em 2020. “A visita que foi feita foi só para nos impedir de trabalhar e daí então nunca vieram fazer uma visita”, narra. Desde então, ele procura auxílio da prefeitura, da Secretaria Municipal de Cultura e da Secretaria de Assistência Social, sem sucesso e com acúmulo de frustrações.

No ano passado, o Governo Federal criou a Lei Aldir Blanc, com o objetivo de oferecer assistência a artistas, centros culturais e investimentos em editais públicos, com repasses aos estados e municípios. Mesmo sendo artista com documentação regularizada, Josemar alega não ter recebido nenhuma verba da prefeitura e não ter sido cadastrado para recebimento do auxílio, mesmo tendo buscado seu direito. “Eu fui lá cinco vezes no Centro de Convenções e nunca fizeram, sempre diziam ‘venham amanhã’ (...) Fui outra vez lá na prefeitura onde encontrei o secretário, conhecido como Seu Isaac, que nos disse que faria nosso cadastro na segunda remessa do valor que viesse”, relembra.

No entanto, segundo ele, não houve repasse para o Circo Imperial do Brasil e nem explicações sobre o que ocorreu. “Encontramos a nova secretária com nome de Genaide que nos convocou para uma reunião para dizer que não tinha fundo de caixa mais e nada podia fazer pela gente”, atesta Josemar. 

De acordo com a denúncia de Josemar feita à reportagem do Jornal Diário do Litoral Nordeste, outras pessoas que não se enquadram no requisito exigido por lei foram contempladas pelo auxílio, o que deveria ser investigado pelo Ministério Público do Estado da Bahia e Federal. “Eu gostaria de chamar atenção das pessoas que tem o poder na mão, as pessoas que tem condições de nos dar uma força, de nos ajudar”, urge o artista.

“Até agora estamos aí à mercê de ter que tirar nossas coisas daqui e colocar na beira da estrada”, lamenta o circense. “Para nós sairmos daqui, só se botarem a gente ali, na beira da estrada, na pista da federal. Porque não temos recursos para sair daqui”. Para o artista, a intervenção do Ministério Público e a investigação sobre os repasses da Lei Aldir Blanc é urgente.

Além disso, Josemar também diz que sofreu humilhações ao tentar conseguir cestas básicas junto à Secretaria de Assistência Social. Conforme seu relato, durante todo o tempo que está estacionada com o circo em Inhambupe, a família recebeu apenas seis cestas básicas e vem sobrevivendo de doações da população de Itamira. A situação se agrava a cada dia e Josemar já não sabe a quem recorrer para buscar seus direitos.

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1 Comentários

  1. A arte a cultura e quem dela vive, por vezes é deixado de lado por incompreensões.
    Mas sempre estaremos de peito aberto, cabeça erguida e com muita vontade de fazer da arte e cultura, a essência maior do nosso viver.

    Poeta Carlos Silva.

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