
Maria Bernadete Pacífico, a líder do quilombo Pitanga dos Palmares, sacerdotisa da religião afro-brasileira Candomblé e ex-Secretária de Igualdade Racial de Simões Filho, no estado da Bahia, foi assassinada na noite de quinta-feira (17 de agosto).
Criminosos supostamente invadiram a comunidade, fizeram familiares reféns e atiraram em Mãe Bernadete, como ela é popularmente conhecida. Ela também é mãe de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, mais conhecido como Binho do Quilombo, que foi assassinado quase seis anos atrás.
O Governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, instruiu a polícia militar e civil a conduzirem uma investigação minuciosa.
De acordo com Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Quilombolas Rurais Negras (Conaq), Bernadete foi morta pelo mesmo grupo responsável pela execução de Binho.
"Ela sabia, e o sistema de justiça sabia, que aqueles que ordenaram a morte de Binho estavam lá, perto da comunidade. Mas nada aconteceu. Ela nunca se calou. Agora ela foi silenciada. É realmente triste para nós", lamentou ele.
Rodrigues afirmou que líderes quilombolas e da comunidade afro-brasileira em Simões Filho são constantemente ameaçados por grupos ligados à especulação imobiliária, que buscam formas de ocupar esses territórios.
O município está localizado na região metropolitana de Salvador, identificada pelo recente Censo Quilombola como a cidade capital com a maior população quilombola do Brasil, com quase 16 mil pessoas e cinco quilombos oficialmente registrados. Essas áreas tradicionais foram fundadas originalmente por pessoas negras que fugiam da escravidão durante o período colonial do país.
Em comunicado divulgado na noite de quinta-feira, a Conaq exige que o governo tome medidas imediatas para proteger os líderes do quilombo Pitanga de Palmares.
"A família Conaq sente profundamente a perda dessa mulher extraordinariamente sábia e uma verdadeira líder. Sua partida prematura é uma perda irreparável não apenas para a comunidade quilombola, mas para todo o movimento de defesa dos direitos humanos", diz a nota.
"É dever do Estado garantir uma investigação rápida e eficaz e responsabilizar os culpados pelos crimes que vitimaram os líderes desse quilombo. A justiça deve ser feita e a verdade revelada, com os perpetradores punidos. Buscamos justiça para honrar a memória de nossa líder perdida, mas também para afirmar que atos de violência contra membros de quilombos não serão tolerados no Brasil", continua o texto.
Uma delegação liderada pelos Ministérios da Igualdade Racial, Justiça e Direitos Humanos será enviada na sexta-feira (18) para realizar reuniões presenciais com órgãos governamentais na Bahia e para prestar assistência às vítimas e suas famílias a fim de proteger o território. O Ministério da Igualdade Racial convocará uma reunião extraordinária da força-tarefa de combate ao racismo religioso.
O quilombo Pitanga dos Palmares, liderado por Bernadete, é composto por 289 famílias e abrange 854,2 hectares, reconhecidos em 2017. A comunidade foi certificada pela Fundação Palmares, mas o processo de titulação do quilombo ainda não foi concluído.
Um estudo da Rede de Observatórios da Segurança, realizado com o apoio de secretarias estaduais de segurança pública e divulgado em junho deste ano, indicou a Bahia como o segundo estado brasileiro com o maior número de casos de violência contra povos e comunidades tradicionais. Segundo apenas ao Pará, a Bahia registrou 428 vítimas de violência entre 2017 e 2022.
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